As opiniões quanto ao que provoca a prática de justiçamentos divergem. As explicações citam desde a descrença nas instituições até o impulso emocional. Jaqueline de Oliveira Muni, doutora em estudos de segurança e professora do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperi), é uma das que acredita que o linchamento aparece quando a população é tomada pela insegurança e pelo ceticismo com relação aos órgãos públicos de justiça: “Esse fenômeno sempre ressurge diante de ondas de temor. Frente ao medo, queremos uma solução imediata, e tendemos a abrir mão das nossas regras.” Marcos César Alvarez, sociólogo especializado em punição e controle social, argumenta também que a justiça privada é realizada como forma de reforçar a coesão social de um grupo e reafirmar valores compartilhados. Após esses atos, então, o medo social se dissipa e a multidão se sente forte e invencível.
Há quem culpe, ainda, a falta de educação da população e o caráter irracional dessas práticas. De um recorte de 2 mil casos, José de Souza Martins concluiu que em quase 68,5% deles o linchamento é imediato ao fator que o motiva – mostrando que “não são ações ofensivas, praticadas por grupos intencionalmente motivados pela ideia da violação dos direitos de pessoas estigmatizadas ou objeto de preconceito”.
Para a pesquisadora do NEV Ariadne Lima Natal, autora da dissertação 30 anos de Linchamento na Região Metropolitana de São Paulo 1980-2009, no entanto, o linchamento não pode ser visto simplesmente como uma ação bárbara ou irracional; segundo ela, as vítimas de linchamento não são aleatórias: os alvos preferenciais são os mesmos já acometidos pela violência policial e pelos homicídios. “Os linchamentos dialogam com seu tempo, eles fazem parte de uma realidade e acionam um repertório que aponta quem são os extermináveis”, diz ela sobre a ideia de que a prática incide preferencialmente sobre pobres e negros.
José de Souza Martins refuta essa ideia, comum no debate sobre linchamentos, dizendo que os dados não confirmam a suposição político-ideológica. De acordo com seus estudos, a classe média carrega o número expressivo de 35,8% das ocorrências, já que “ninguém sai dos bairros ricos para linchar pobres nos bairros pobres”. Segundo ele, o único indício de tensão racial relacionado à justiça não institucional é que, se a vítima for negra, cresce a probabilidade de maior violência.